As aventuras de uma aprendiz de si mesma em busca de seu próprio País das Maravilhas
Este blog não tem pretenções literárias. Todos os textos postados aqui são produto de uma mente um tanto inquieta e, como tal, em constante busca de respostas para as inúmeras perguntas que teimam em surgir sem serem convidadas. Leitores que caírem, propositalmente ou não, nesta toca devem, portanto, abster-se de julgamentos de valor e tentar ler esses pequenos posts sem preconceitos...
terça-feira, 25 de setembro de 2012
O impensável
Um dos maiores clichês da humanidade é que todos achamos que certas coisas jamais acontecerão conosco. Até acontecerem. Certas coisas são impensáveis, até sermos forçadas a pensar nelas. E quando, numa página de diagnóstico de um laboratório clínico, lemos a palavra "carcinoma", temos a nítida sensação de que estamos lendo o diagnóstico de outra pessoa. Certamente aquilo não pode ter nada a ver conosco, certo? Errado.
Só quem já passou por coisa parecida, quem já abriu um laudo laboratorial e viu essas palavras referentes a si próprio, terá a exata noção do que estou querendo dizer aqui.
No meu caso específico, essas palavras são "carcinoma basocelular pigmentado", um tumor maligno bem acima da minha sobrancelha direita. Amanhã ao meio-dia a médica vai extirpar esse tumor e, com um pouquinho de sorte, ele nunca mais irá voltar.
Sorte.
Palavra interessante se associada a qualquer tipo de câncer. Por um lado, se as estatísticas da minha dermatologista estiverem certas, estou entre os 5% de pessoas cujas pintas na testa são, na verdade, tumores malignos. CINCO por cento. Por outro lado, posso me considerar uma felizarda. Meu carcinoma, aparentemente, é dos mais fáceis de serem curados, e eu tive a sorte de diagnosticá-lo no início.
De repente, a noção do que é ou não é sorte se torna muito relativa.
Desde que tive esse diagnóstico, há aproximadamente 20 horas, a humanidade, para mim, se divide em dois grupos de pessoas: as que têm câncer e as que não têm. E, como a grande maioria das pessoas com quem me relaciono pertence ao segundo grupo, é como se, literalmente de um segundo para outro, eu tivesse sido puxada para longe delas. Hoje pertenço ao grupo das pessoas que não têm mais o luxo de se acreditarem senhoras do seu próprio destino.
quarta-feira, 19 de setembro de 2012
RODA VIVA
"Tem dias que a gente se sente
Como quem partiu ou morreu;
A gente estancou de repente,
Ou foi o mundo então que cresceu?"
Conotações e/ou referências políticas à parte, o que mais me interessa na letra da música é mesmo a ideia de que estamos todos presos a uma Roda Viva que leva nossos sonhos e planos embora. E que algum dia a gente vai se sentir como se tivesse estancado. É assim que venho me sentindo nestes últimos dias.
A música levanta a velha questão sobre se temos ou não o comando da nossa própria vida, explicitamente expressa nos seguintes versos, "A gente quer ter voz ativa, no nosso destino mandar; mas eis que chega a Roda Viva, e carrega o destino pra lá..."
Eu devo ser dessas pessoas que creem no poder de cada um de mandar no seu destino; se não fosse, não estaria sofrendo por achar que deixei a Roda Viva levar meus planos "pra lá". Mas daí me vem um questionamento: será que isso não passa de uma ilusão vã? A Roda Viva seria, como a canção sugere, algo exterior à nossa vida, ou será que ela É a nossa vida? E não seríamos mais felizes simplesmente deixando ela nos levar??
Essas são as perguntas que me tiram o sono atualmente.
segunda-feira, 10 de setembro de 2012
Corações Frios
“Why can’t I free your
doubtful mind and melt your cold, cold heart?”
Nessa canção, Norah Jones fala da dificuldade de ganhar a confiança do homem que ela ama e derreter um coração esfriado por uma desilusão amorosa. Em certa parte da música ela diz que “um amor antigo deixou seu coração frio e triste, e agora o meu coração está pagando por algo que não fiz...”
domingo, 10 de junho de 2012
Comida
quinta-feira, 7 de junho de 2012
Minhas mulheres e meus homens
Nem sei bem por que decidi escrever sobre algumas das mulheres e alguns dos homens que passaram pela minha vida, a não ser pelo fato de que, entre outras coisas, Sonia e eu conversamos sobre isso na última segunda-feira. Na verdade, conversamos sobre minhas escolhas e o que elas dizem sobre mim mesma. E, refletindo sobre isso enquanto escrevo, não posso deixar de pensar que o fato de eu ter me relacionado tanto com homens como com mulheres também diz muito sobre mim. Não é exatamente algo comum para alguém da minha geração. E no entanto, desde o momento em que eu me vi atraída por uma mulher, tudo me pareceu muito natural, e parece até hoje, embora minha relação atual seja com um homem.
Mas talvez seja mais fácil escrever sobre minhas mulheres e meus homens em ordem cronológica.
Os primeiros homens da minha vida perderam qualquer importância em comparação àquele que, até hoje, foi o homem que eu mais amei: meu lindo italiano, Daniele, que conheci no primeiríssimo dia da minha primeiríssima viagem internacional, e seis meses depois de ter conhecido reencontrei e acabei dividindo um quarto e minha vida por mais onze meses em Londres. Até hoje, não consegui reproduzir com mais ninguém, seja homem ou mulher, a intensidade e a plenitude da minha relação com esse homem, meio cigano, meio amoral, totalmente aventureiro e destemido e que me amou, acredito, também como ninguém mais antes ou depois dele. Sinto falta dessa relação e do nosso amor até hoje, mais de vinte anos depois de ela ter terminado para sempre.
Ao voltar para o Brasil, houve muitos homens, sempre na vã tentativa de encontrar um segundo Daniele. Conheci o Cesar, noivei, fui morar junto, casei. Nunca entendi o porquê. Acho que estava cansada de ser solteira, achei que era hora de casar, quem sabe constituir família, sei lá. Não era pra ser. Estava divorciada em menos de cinco anos. Segundo minha tia que me conhece como poucos, "o Cesar nunca foi páreo" pra mim. Acho que ela tem razão. Excessivamente religioso, ele nunca aceitou meu espírito por demais independente e pragmático, e eu tinha dificuldade de aceitar o que, para mim, era uma visão muito estática da vida. Eu queria mais, ele queria o mesmo de sempre. Não deu.
Depois do divórcio, mais alguns casos, inclusive um com um homem casado, e muitas decepções, antes de eu finalmente chegar à conclusão de que eu não me dava bem com os homens, quem sabe me dou melhor com as mulheres?
Alguns meses mais tarde, conheci a Kika no mestrado. Nem eu nem ela jamais estivéramos com outra mulher. A primeira vez que nos beijamos e fizemos sexo, uma revelação! Sexo com mulheres é demais!! Nada daquela tensão que tinha com os homens, nenhum lance de poder, nenhuma preocupação com desempenhos de ambos os lados, tudo muito fluido, muito leve, fantástico!!
Achei que tinha finalmente me encontrado e encontrado um amor que duraria para sempre. Ela me atraía pelas diferenças que tínhamos, já que somos opostas em quase tudo. Foi admiração mútua, uma querendo ser mais como a outra.
Infelizmente, justamente o que nos atraiu acabou por nos separar. As diferenças foram ficando mais difíceis de lidar à medida que o tempo passava, e o fato de que ela nunca aceitou inteiramente estar se relacionando com uma mulher acabou sendo outro fator decisivo para nossa separação. Eu queria morar junto, dividir minha vida com alguém, ela não conseguia encarar isso.
Com a Cristina, finalmente encontrei alguém que queria o mesmo que eu, ou seja, uma relação sob o mesmo teto, o compartilhamento de uma vida a dois, de fato. Durante mais de dois anos nossa relação foi ótima, sem grandes paixões, sem altos e baixos, simplesmente harmônica, cheia de companheirismo. Sinto falta do nosso companherismo. Acho que no fim fomos mais grandes amigas do que propriamente amantes, e tínhamos tanto em comum que era fácil e bom estar junto, compartilhar ideias, viajar, sair com amigos. Até que ser sermos grandes amigas e excelentes companheiras começou a não bastar para mim. Foi então que eu me vi, totalmente sem aviso, novamente atraída por um homem, e depois de um ou dois meses me vi obrigada a romper a relação com minha companheira para tentar novamente me relacionar com alguém do sexo oposto.
É nesta relação que ainda estou hoje, após ter rompido, morrido de tristeza e conseguido convencê-lo a voltar comigo dez dias depois. No todo, desconsiderando esse hiato de pouco mais de uma semana, estamos juntos há seis meses.
O que, exatamente, me atraiu nele, ainda nem sei direito. Acho que o fato de ele ser tão mais novo que eu foi um fator importante. A juventude dele, se por um lado me lembra o tempo todo que eu já não sou tão jovem, por outro lado me faz sentir jovem, afinal, não é sempre que um rapaz de vinte e poucos anos se apaixona e quer namorar uma mulher de quase cinquenta.
De certo modo, entretanto, o que me atraiu nele é justamente o oposto do que me atraiu na Kika, ou seja, ele é muito parecido comigo. Eu me vejo nele quando tinha vinte e três anos, e ainda hoje mesmo, temos a mesma independência, o mesmo espírito rebelde, a mesma teimosia e, principalmente, a mesma terrível insegurança que nos faz armar até os dentes sempre que nos sentimos rejeitados ou de algum modo atacados. E, se as diferenças entre eu e a Kika tornaram nossa relação muito difícil, as semelhanças entre meu namorado atual e eu também não facilitam as coisas pra nós. As brigas são constantes, e o entendimento, quase impossível. Continuamos tentando, porque nos gostamos muito, ainda acreditamos na nossa relação. Mas se vamos ou não conseguir superar as enormes dificuldades que estamos enfrentando, só o tempo dirá.
Chegando ao fim deste texto, que aliás acabou ficando enorme, eu me pergunto: tudo bem, Dulce, mas e aí? Existe alguma moral nesta história? O quê, afinal, essas mulheres e esses homens e o fato de você os ter escolhido dizem sobre você mesma? E, revendo a minha relação com essas cinco pessoas que enumerei aqui e com as tantas outras que este espaço seria muito pequeno para enumerar, vejo que não há conclusão possível, por serem pessoas tão absolutamente distintas, que me atraíram também pelas mais diversas razões e com as quais tive relações ímpares. A única coisa que todos têm em comum foi que, em algum momento de suas vidas, eles me amaram o suficiente para querer dividir ao menos um pedacinho de suas vidas comigo. E por isso eu lhes serei eternamente grata.
quinta-feira, 31 de maio de 2012
Sincronicidade
Fato é que um dia após a minha última postagem, na qual falo do meu medo das pessoas, muito mais do que de espíritos ou fantasmas, deparei-me com uma entrevista que parecia fazer eco às ideias que tinha acabado de postar aqui. O entrevistado era Tim Burton, o cineasta americano conhecido por suas imagens no mínimo bizarras e, às vezes, até meio horripilantes. E eis o que ele afirma na entrevista: "Meus pais ficavam surpresos porque eu assistia filmes de terror e não tinha medo nenhum. Nunca tive medo de vampiros ou de Frankenstein. As pessoas reais é que são assustadoras."
Continuando a ler, cheguei a uma parte na qual Tim Burton falava de sua infância. Assim como eu, ele foi uma criança esquisita, diferente das outras, sempre considerado meio doido. Deve ter sofrido muito bullying, assim como eu também sofri, antes mesmo de terem cunhado esse termo. Naquela época a gente engolia e pronto, não tinha toda essa explicação psicossocial pra esse tipo de comportamento, o consenso era de que "crianças são cruéis mesmo, fazer o quê?"
É fácil entender por que tanto o Tim quanto eu temos dificuldades para confiar nas pessoas até hoje.
Já no final da entrevista, ele confessa, " Sabe o que é estranho? É que sempre me achei normal quando era criança. Depois de um tempo, você começa a pensar que é maluco, porque todo mundo te chama assim. Aí os anos passam e você se dá conta de que eles estavam certos, você era louco, mesmo."
Será?
segunda-feira, 28 de maio de 2012
Sobre fantasmas e gente
sexta-feira, 20 de abril de 2012
Mensagem para quem não me lê - parte II
Meu amor, meu menino, meu homem, esta mensagem é para você, que provavelmente nem se lembra do endereço deste blog... Embora eu tenha te mostrado ele uma vez, e você até tenha lido o primeiro post desta minha volta à toca. Lembro que fiquei magoada, porque quando você me leu não disse nada, não ofereceu crítica nem elogio, ficou calado. Do mesmo jeito que ficou calado quando eu disse que não dava mais pra nós. Não contestou, não tentou me convencer, justo você que sempre tentava me convencer de que tanta coisa em que eu acreditava estava errada. Justo agora, que eu bem que posso estar errada. Afinal, por que outra razão eu, que terminei a relação, ia estar sofrendo tanto?... Não deveria ser o contrário, eu não deveria estar aliviada, ufa, consegui terminar uma relação que não estava dando certo, não estava nos fazendo felizes...? Mas não, tudo o que eu penso é em como sinto sua falta e como queria ter você de novo nos meus braços, na minha cama, em cima, embaixo, dentro de mim. Hoje é sexta-feira, estou sozinha e você está afogando as mágoas na vodka (pelo menos você me disse que iria sair pra beber, e eu imagino que se vai mesmo fazer isso, não vai ser com cerveja, e sim com sua bebida favorita). Daí me pego pensando, será que fiz mesmo a coisa certa?? Minha cabeça diz “Sim, não podia dar certo, vocês são diferentes demais, não têm nada em comum, iam começar a se odiar a qualquer momento!”, mas meu coração diz, “Não, sua tonta, vocês se gostam de verdade, ele te entende como ninguém, apesar das diferenças, apesar das dificuldades, por que terminou, por preconceito?” Em quem acreditar, na minha razão ou na minha emoção? Como para tantas outras questões na minha vida, também não consegui achar ainda a resposta para esta. E agora sinto você escapando de mim, e meu medo é que se um dia me decidir pela emoção seja tarde demais.
quinta-feira, 19 de abril de 2012
Sessões das segundas-feiras
Faz bem pouco tempo que retomei essas sessões, que antes eram às quartas-feiras, agora são às segundas-feiras; antes eram cedinho, quando meu dia ainda estava começando e eu me preparando pra correria do trabalho, agora são no final do dia, quando eu já estou cansada e pronta pra ir pra casa, cair no meu sofá e relaxar. Antes disso, entretanto, dirijo-me ao bairro de Moema. Subo ao 60 andar, sempre com alguma apreensão, alguma ansiedade: sei como estou entrando, mas como será que vou sair, daqui a uma hora? A única certeza que tenho é que não sairei igual. Daqui a curtos 60 minutos eu já serei um pouquinho diferente.
Ela abre a porta, e nunca esquece de me oferecer algo, um café, uma água de coco, sempre a mesma gentileza, o mesmo cuidado. E é com esse mesmo cuidado que me convida a entrar, me faz sentir acolhida, como se a separação não tivesse sido longa – mais de três anos – e, quando entro na sala, que nem é a mesma de antes, mas continua elegante e confortável, eu me pego pensando: “ainda bem que voltei!”
Minhas sessões das segundas-feiras são curtas, às vezes difíceis, às vezes até doídas, mas sempre, sem exceção, transformadoras. E, enquanto eu saio da sala, desço no elevador e saio do prédio, não posso deixar de pensar em como tenho sorte de ter esses encontros semanais com essa pessoa tão rara, tão sensível e tão essencial a essa que é, certamente, a minha mais importante missão, e que deveria ser a mais importante missão na vida de todos nós: desvendarmos o mistério que somos, em busca de uma vida mais plena.
(Para Sônia e Anônimo)