DISCLAIMER
Este blog não tem pretenções literárias. Todos os textos postados aqui são produto de uma mente um tanto inquieta e, como tal, em constante busca de respostas para as inúmeras perguntas que teimam em surgir sem serem convidadas. Leitores que caírem, propositalmente ou não, nesta toca devem, portanto, abster-se de julgamentos de valor e tentar ler esses pequenos posts sem preconceitos...


quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Almoço

Ela me disse "minha mãe foi pra Itália me trouxe uma lava-louças Prada ". Achei que ela estava exagerando, ou tirando sarro da minha cara, mas ela falava sério, como vim a descobrir mais tarde.
Um dia ela me convidou para um almoço na sua casa. Assim que entrei, vi que ela não exagerava mesmo: nunca tinha entrado numa casa tão grande ou tão rica. Salas que pareciam não ter fim, quatro ou cinco criadas, até um quarto só para suas roupas ela tinha. E eu pensava "se ficar com ela, serei rica e viverei uma vida de princesa", mas logo me arrependi de ser tão superficial. Ademais, nunca quis que ninguém me sustentasse , não ia ser agora que iria querer. Havia outras pessoas lá, amigos e familiares dela. Hora do almoço, nos sentamos, mas nem todos. Ela e algumas outras pessoas tardavam a vir para a mesa, detidos não sei por que razão. Alguns dos convidados, tentados pelas iguarias incrivelmente sofisticadas e cheirosas que já se encontravam dispostas sobre a mesa, e certamente famintos, começaram a comer. "Que falta de educação", pensei, "vou esperar até que ela e os outros estejam sentados". E esperei. Infelizmente, quando isso aconteceu e fui pegar um prato, vi que todos estavam sujos. Fui até a cozinha, onde três empregadas estavam ocupadas com a arrumação, e foi aí que testemunhei que ela tinha, de fato, uma lava-louças Prada, que mais parecia um frigorífico de tão grande. E foi lá mesmo que o prato foi lavado, pois as moças não lavavam nada manualmente.
Voltei para a mesa do almoço, onde descobri que quase toda a comida havia acabado. Os grandes camarões empanados, as codornas recheadas, os pãezinhos de todas as cores, deles nada restava. Só haviam sobrado os pratos menos apetitosos - os legumes grelhados, os cogumelos e os pães sem muita cor. Eu, que nesta altura já estava esfomeada, me servi desses mesmos, fazer o quê.
Após o almoço - o meu um tanto fraco -, ela me levou para ver o tal closet gigante, onde ficavam todas as suas roupas. Era um quarto longo e estreito, no qual grandes armários ocupavam toda a extensão das paredes laterais. Perguntei a ela se não era desconfortável ter de andar tanto (afinal, as distâncias na sua casa eram grandes) para poder se vestir. Ela disse que não. Enquanto andávamos pelo closet e ela me mostrava seus vestidos Dolce e Gabanna, suas bolsas Gucci e seus sapatos Laboutin, eu olhava para ela e pensava como era bonita. E milionária. E eu, que fui dos poucos que tiveram educação suficiente à mesa, nunca teria uma casa ou uma vida como aquelas.
Tudo bem, não saberia mesmo como operar uma lava-louças Prada. Mas adoraria um closet daqueles...

3 comentários:

Anônimo disse...

Oi, Dulce. Farejando letras em seu blog. É impressão minha ou você saiu com fome?...rs... Sorry, mas achei o texto engraçado. Diria bizarro no melhor dos sentidos e adoro bizarrices factuais. Me divertem ao extremo.
Quanto ao livro "O Sol É Para Todos", leia. Vencedor do Prêmio Pulitzer de 1961 (se não me engano), ganhou uma versão para o cinema em 1962. Um clássico dos clássicos com Gregory Peck. Só não vale chorar no final.
Abraços,
Kriz

Anônimo disse...

Oras,Dulce através do espelho:quantos fatos interessantes e aparentemente desconexos,você encolheu,a casa cresceu,a lava-louças era gigante,mas a comida era pouca.Que barbaridade deliciosa.Concordo com a moça aí de cima,pois,uma das definições de Bizarro é "aprumado no vestir".Beijos.

Dulce Spinelli disse...

Meninas, que bom que vocês curtiram o nonsense extremado deste meu textinho, que na verdade foi inspirado em um sonho que tive esta semana... achei minha criatividade/bizarrice subconsciente tão interessante que não podia deixar passar, rsrs. E vc tem razão, Kriz, realmente saí com fome, com várias fomes, diria.
Obrigada pelos comentários!