DISCLAIMER
Este blog não tem pretenções literárias. Todos os textos postados aqui são produto de uma mente um tanto inquieta e, como tal, em constante busca de respostas para as inúmeras perguntas que teimam em surgir sem serem convidadas. Leitores que caírem, propositalmente ou não, nesta toca devem, portanto, abster-se de julgamentos de valor e tentar ler esses pequenos posts sem preconceitos...


quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Saudades

Me apaixonei por você num relance
você tremia nos meus braços
com medo da vida
e eu dizia tudo bem, eu também
já tremi de medo...
levei você comigo
te pus na minha cama
e afaguei seus pelinhos eriçados
(você tem os pelos arrepiados até hoje...)
e você dormiu a noite toda encostadinha em mim.
Não fui eu quem te deu teu nome
mas ele coube direitinho em você,
que tem cor de biscoito
e é doce como um também.
Sua ausência dói todo dia
e à noite sinto a falta
da sua presença quente e calada...
minha única saída
é te lembrar nessas fracas linhas
que não te fazem jus.

VILEZA

Como ela pôde fazer isso?? Não acredito que é minha neta! Essa não foi a educação que seus pais deram pra ela, e nem eu! Que vergonha, meu Deus, que vergonha. Por que fui entrar no banheiro??? Não, ainda bem que entrei, que peguei ela no ato, assim posso cortar o mal pela raiz. E sei exatamente como vou fazer isso. Vou pedir pra ela sair comigo ("vem, filhinha, vem com a vovó no supermercado", "legal, vó, vamos sim" - ela adora ir comigo no supermercado); vamos no supermercado da rua 12, não faz mal que é mais longe, digo pra ela que esse mercado é melhor que o da Mercedes. Na rua 12 tem o mendigo torto, ai Deus me perdoe, não posso chamar ele assim, afinal, é filho de Deus, deve ser horroroso ter nascido assim, todo retorcido, os dedos como galhos de julho, pra sempre fadado a esmolar, se arrastando pelas ruas com seus gambitos tortos... ah, mas ela não sabe que ele já nasceu assim! Garanto que posso convencer ela que ele ficou desse jeito porque fez "aquilo". Ela vai acreditar em mim, ela acredita em tudo que eu falo. Garanto, nunca mais vai fazer essa pouca vergonha.

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

CEGOS QUE, VENDO, NÃO VÊEM

"Estamos cegos, cegos que vêem, cegos que, vendo, não vêem." (Saramago)

Diana vai se casar. Pedro, seu futuro marido é alcoólatra e, quando bebe, bate nela. Mas ele a ama, ela sabe. Quando a pediu em casamento, disse que havia parado de beber. Ela acreditou. Naquela noite, bebeu só um pouquinho, para comemorar. Ainda no bar, achou que seu vizinho de mesa estava flertando com Diana, e que ela estava dando bola. Quando chegaram em casa, ela apanhou. No dia seguinte, ele pediu perdão, disse que nunca mais beberia. Ela acreditou. Agora Diana está pensando no seu vestido de noiva e em como ele será lindo. Seus pais lhe imploram que não case com Pedro. Todos sabem que ele não parou de beber, menos Diana. Não, diz ela. Pedro a ama. Eles vão se casar, ele não vai mais beber. Ela não vai mais apanhar.

Cátia e Roberto são casados há 20 anos. Têm dois filhos, uma garota de 18 anos e um rapaz de 15. Cátia é publicitária, Roberto é gerente de vendas de uma grande empresa. Ambos trabalham, ganham bem, e pelo menos uma vez por ano viajam com os filhos. Cátia e Roberto têm um casamento invejável; ambos gostam das mesmas coisas, vão ao cinema, jantam fora, curtem a vida. Seus amigos os invejam, afinal, eles têm tudo que um casal pode ter. Roberto ama Cátia e tem certeza de que ela o ama. Conversam muito, Cátia conta quase tudo a Roberto. Quase tudo - menos sobre Júlio, seu colega na agência. Cátia e Júlio são amantes há 4 anos, e se encontram religiosamente todas as semanas, nas quartas-feiras à noite, quando Roberto pensa que ela está na aula de Yoga. Já a esposa de Júlio pensa que ele está jogando tênis. Cátia e Júlio nem cogitam deixar seus respectivos cônjuges. Para quê? São felizes assim.

Lúcia conheceu César por meio de seu cunhado, Fernando, marido de sua irmã. César se interessou imediatamente por Lúcia, e Lúcia se encantou com o cavalheirismo de César. Ele é um homem como há poucos hoje, pensou. Médico de sucesso, César gosta de viver bem. Conquistou Lúcia com seu jeito carinhoso, romântico, jantares à luz de velas, flores entregues diariamente em sua casa. Em um mês, Lúcia estava apaixonada. Em dois, estavam noivos. Lúcia só estranhou uma coisa: César não queria fazer sexo com ela antes de se casarem. Dizia que, apesar de nenhum deles ser virgem, era antiquado e sempre sonhara em fazer amor com sua mulher pela primeira vez na noite de núpcias. Lúcia achou loucamente romântico, embora um tantinho peculiar. Durante os quatro meses de noivado, César continuou insistindo nisso, e Lúcia concordou. Na noite de núpcias, entretanto, César não fez amor com Lúcia. Nem na noite seguinte, nem nas próximas 40 noites. Só após ter pedido a anulação do casamento foi que ela descobriu o porquê. Hoje César e Fernando moram juntos. Finalmente conseguiram assumir seu amor, e tanto Lúcia quanto sua irmã estão sozinhas.

O que é a cegueira? Podemos confiar em nossos olhos? O que é real, e o que é falso? Talvez seja melhor não nos fazermos essas perguntas.