DISCLAIMER
Este blog não tem pretenções literárias. Todos os textos postados aqui são produto de uma mente um tanto inquieta e, como tal, em constante busca de respostas para as inúmeras perguntas que teimam em surgir sem serem convidadas. Leitores que caírem, propositalmente ou não, nesta toca devem, portanto, abster-se de julgamentos de valor e tentar ler esses pequenos posts sem preconceitos...


segunda-feira, 16 de junho de 2008

Um pequeno poema existencialista

Em nossa aula da última terça, nosso professor de poesia, Nelson de Oliveira, nos deu 20 minutos para que escrevêssemos um poema que nos apresentasse. Nem preciso dizer que tal exercício causou um estado de quase pânico entre a maioria dos alunos, eu inclusive. Como escrever um poema em 20 minutos?? Pior, como escrever um poema em 20 minutos sendo que NUNCA escrevi um só poema em minha vida??? E, o pior de tudo, como escrever um poema em 20 minutos dizendo QUEM SOU????
É engraçado o que uma "leve pressão" é capaz de fazer. Diante da tarefa que nos foi dada, e frente ao medo de fracassarmos justamente na primeira tarefa proposta de "bate-pronto" no curso, TODOS os alunos conseguiram escrever o tal "poema de 20 minutos". Alguns deles, inclusive, escreveram pequenas preciosidades, em vista do tempo limitadíssimo e da dificuldade da tarefa.
Eu, por outro lado, se não escrevi nenhuma obra-prima, acabei por perceber uma coisa sobre mim mesma que, não fosse a exigência de ter de me apresentar em forma poética e em 20 minutos, provavelmente levaria muuuito tempo para perceber: que sou, no fundo, uma existencialista!
Que não acreditava em Deus, pelo menos no sentido mais estrito, isso já sabia. Assumi a arte como religião, e é por meio dela - de todas as suas manifestações - que "me religo" com o supremo da vida. Mas confesso que não sabia que tinha uma visão tão Sartreana da minha própria vida.
Abaixo, coloco o tal poema introdutório, e aproveito para pedir aos colegas que me ajudem a aprimorá-lo, nossa próxima tarefa, a qual confesso que estou tendo dificuldades em executar. (Essa versão já é a terceira, mas mesmo assim continuo achando que há muito o que melhorar nela).

IDENTIDADE

Aquilo que sou,
Confesso, não sei;
Apenas que um dia não fui
E - cedo ou tarde - não mais serei.
Em meio a esses dois não-seres
Dia após dia, vivo
meu ser.
O que sou?
A resposta,
Se um dia a tiver,
Não me caberá mais viver.
Aquilo que sou,
Vivo para aprender.

8 comentários:

Lu Faria dos Anjos disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Lu Faria dos Anjos disse...

Dulce,
Eu adorei esse poema. Se você não o tivesse postado aqui, eu iria lhe pedir cópia.
Está muito bem trabalhado!
Parabéns!

Lú Faria
Libelula

Sady Folch disse...

POxa Dulce, que bacana esse poema.
Gostei especialmente do final.
Sady

Anônimo disse...

Gostei muito Dulce,parabéns.Instigante e muito inteligente.

THMBdoN disse...

Quando a gente acha que não pode melhorar! Good job!

Anônimo disse...

Olha só a afinidade: também pra mim a poesia e o sagrado se misturam, o sagrado está na poesia (apenas na poesia) e vice-versa. Esse é o sentido do que Nietzsche dizia e os surrealistas repetiam: "Precisamos poetizar a sociedade e o mundo". Não sei se essa utopia será um dia realizada, mas muitos filósofos e poetas continuam seguindo no seu encalço.

Nanete Neves disse...

Existencialista, Dulce... se este foi o seu primeiro poema, imagino o que vem por aí...rsrs

THMBdoN disse...

Só lembrando da sua pergunta: ética vem de ethos (caráter), então a ética lida com os desejos do caráter; moral vem de mores (costumes), então a moral lida com as convenções de relacionamento. E, sim, acredito que se você, por exemplo, tem desejo de matar alguém, isso é ético, pois diz respeito ao seu ethos, ao seu caráter. Porém, existe a moral, que não permite que você extravase todos os seus desejos. Como eu disse no meu post, são duas instâncias conflitantes, e necessárias. Não vivemos só de desejos, tampouco só de regras.