Uma grande amiga minha escreveu recentemente em seu blog que minha estória "o quarto do espelho" a fez pensar nas escolhas que ela fez até hoje e até sobre questões dos papéis que ela tem assumido em sua vida. Além da honra e do incrível sentimento de realização que senti, pelo fato de algo que escrevi ter provocado tamanho impacto na vida de alguém de quem gosto, o texto dela, por sua vez, veio ao encontro de uma questão em que vinha pensando desde que vi um filme, no domingo, sobre a coragem de escolhermos nosso destino. O título original do filme é simplesmente "Michael Clayton", nome do protagonista. Como não poderia deixar de ser, o título em português tinha que ser mais "mercadológico", e a opção escolhida foi "conduta de risco". Mas, diferentemente de vários casos conhecidos, achei que desta vez a escolha do título foi feliz.
O herói Michael Clayton tem uma jornada extremamente difícil. Em dado momento do filme, tem que escolher entre continuar desempenhando um papel para o qual foi escolhido pela empresa onde trabalha, e receber dessa empresa um empréstimo que lhe salvará a reputação e, quem sabe, até a vida; ou seguir o caminho que um colega (mentor?) seu, pivô da trama, lhe apontou como sendo o caminho certo, e que ele sente em seu interior que é o que deve fazer, e perder o emprego, o empréstimo e a vida que levou nos últimos 10 ou mais anos. Em dado momento do filme, enquanto tenta convencer o colega a se internar em uma clínica para maníacos depressivos, ele diz a esse colega "Eu não sou o inimigo", e ouve em resposta uma pergunta, "então quem é você?". Perguntinha difícil de responder em qualquer circunstância, mas ainda mais difícil no caso do protagonista.
É claro que, como em todo bom filme hollywoodiano, o herói acaba optando por renegar o trabalho sujo que fazia para a empresa e, ao perder o emprego e o empréstimo de que tanto precisa, na verdade ganha algo muito mais precioso: a vida que ele realmente escolheu, com tudo o que isso implica, além da sensação inigualável de ter ajudado centenas de pessoas que haviam sido prejudicadas pela grande empresa de produtos agrícolas que sua firma defendia.
A jornada desse herói me fez pensar nas escolhas que fazemos e nos papéis que assumimos, normalmente por pressão de nossos pais, colegas, patrões, e da sociedade em geral, ou por medo mesmo, ou ainda por comodismo. Às vezes, sem mesmo nos darmos conta. E, mesmo que não tenhamos uma dívida de US$80.000 como Michael Clayton, nunca é fácil nos despirmos desses papéis e tomarmos as rédeas de nossas vidas (minha amiga que o diga!). Mas a recompensa, o elixir que vem com esse desnudar, quando finalmente assumimos o risco e conseguimos ser, nem que seja um pouco só, verdadeiros a nossa essência, certamente vale todo o medo que passamos no processo.
Nem sempre é fácil detectar quais são nossas condutas de risco. Na minha vida, até hoje, consegui perceber algumas; corri alguns riscos, e algumas vezes eles valeram a pena e voltei para casa com meu elixir. Outras são mais difíceis de assumir, mas continuo tentando.
E você, sabe qual são as suas condutas de risco?
P.S. É interessante notar que o ator do filme, George Clooney, que, embora lindo, nunca foi tido como bom ator, também assumiu uma conduta de risco ao deixar a câmera focalizar seu rosto por vários minutos na tomada final, enquanto a expressão do personagem ia lentamente se modificando para espelhar a transformação pela qual passara. Pessoalmente, acho que esse risco valeu a pena!
4 comentários:
Olá Dulce,
Tenho notado nesta última semana, uma certa conduta reflexiva, entre os blogueiros, no que diz respeito ao dinheiro.Será que a aproximação com a literatura, do ponto de vista da escrita, está despertando uma consciência da inquietação que ele provoca? Tanto a falta quanto o excesso dele, nos faz tomar atitudes de risco, como você bem pontuou. Creio que, em tempos de globalização, devemos refletir "quem manda em quem": ser humano ou dinheiro?
Tenho uma ótima indicação para essa reflexão.Se ainda não leu leia.
A "Selva do dinheiro" de Roberto Muggiati.
É uma coletânia de contos.Entre eles estão Allan Poe, Mupassant, Gogol, James Joyce, Tolstói e outros.
Fico por aqui,pois corremos o risco
disso não ser mais apenas um comntário e sim uma postagem do Blog. rsrsrs
Parabéns pela resenha!
Bjs
Lu Faria
Libélula
Oi Dulce:
Já dizia um velho ditado que "Quem não arisca não petisca"
meu ver é necessário muito discernimento para dar um passo duvidoso.
Como religioso o que teria a dizer a quem me solicitsse algum conselho num caso de ter que tomr uma aitude de risco é:
" Busque primeiro o reino de Deus e omais vos será dado por acréscimo"
Veja a resposta ao seu post no meu blog :) Beijos
Na verdade queria comentar o post de cima, não este, mas como não apareceu o link para mim, vai por aqui.
Acho fantástico a atitude de sair da zona de conforto! Parabéns! É assim que a gente cresce, aprende!
Dar-se a chance a você mesma de "estar viva" e, por vezes, de "andar no mar", é justamente fazer coisas novas, que nunca fez, para ver se gosta, ou não.
Acho difícil entender a diferença entre “se amar” e “ser egoísta”, pois respeitar-se e colocar-se no mundo como indivíduo não necessariamente é ser egoísta. Tudo depende do como e com que intenção as coisas são feitas.
Segundo as “leis universais”, são justamente os semelhantes (em temperamento/comportamento) que se atraem, não os opostos. Então, você e seu amor podem até não terem gostos parecidos para programas (sofá X terra), mas com certeza têm traços de temperamento e comportamento semelhantes (mesmo que não estejam claros, ainda), e é justamente esta quantidade de semelhanças o que faz ser possível a identificação de almas e a continuidade do relacionamento, apesar das vontades diferentes (facilmente resolvidas com alternâncias de programas: ora sofá, ora terra, rsrsrs). Do contrário, pessoas com mesmos gostos deveriam se amar naturalmente, e isto não é necessariamente verdade. ;-)
Fora isto, acredito que todos somos inteiros e diferentes. Não há nenhuma metade nossa perdida por aí (não somos laranjas!), nem ninguém igual a nós no mundo. Ou seja, não é só seu amor que é diferente de você, mas o mundo inteiro. E isto é MARAVILHOSO!!!
Portanto, fique tranqüila... diferenças de gostos não comprometem a continuidade de um relacionamento, quando este é baseado na troca mútua, onde ambos saem das suas zonas de conforto próprias para “crescerem” ( não em centímetros, é claro, rsrsrsrsrs). ;-)
Tomara que hoje vários namorados estejam por aí saindo das suas “zonas de conforto”. Parabéns a todos os “enamorados”! Aos “não-enamorados”, nada de roubar o menino de Santo Antônio amanhã! rsrsrsrs
Beijos e bom fim de semana Dulce-Alice!
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