DISCLAIMER
Este blog não tem pretenções literárias. Todos os textos postados aqui são produto de uma mente um tanto inquieta e, como tal, em constante busca de respostas para as inúmeras perguntas que teimam em surgir sem serem convidadas. Leitores que caírem, propositalmente ou não, nesta toca devem, portanto, abster-se de julgamentos de valor e tentar ler esses pequenos posts sem preconceitos...


quarta-feira, 18 de junho de 2008

UM POEMA A SEIS MÃOS

Havia começado um pequeno poema sobre uma crise de pânico que tive em plena madrugada, algumas semanas atrás, e não havia modo de conseguir terminá-lo. Após dias "lutando" com os versos e sendo constantemente derrotada por eles, resolvi pedir a ajuda de duas amigas que gostam muito de escrever e o fazem muito bem. Assim nasceram as duas versões abaixo, ambas escritas a quatro mãos. As primeiras três estrofes são minhas, e as restantes, de minhas "colaboradoras".

PÂNICO - VERSÃO I

Uma e meia da manhã, noite adolescente.
Acordo de repente, o coração endoidecido
O que terá acontecido
Pra ele se rebelar assim,
E me arrancar do sono, do sonho,
Do quente?
Está frio, mas suo, me viro
- E lá está o bandido!

"Quem é você e o que quer de mim a esta hora ingrata?"
"Por que a pergunta"
- Diz, ofendido -
"Se a resposta é evidente?"
"Sou o que te atormenta, o que te assusta,
O que te maltrata!"
Respondeu ele, afiando o tridente.

"Sai daqui, besta,
Que de você não tenho medo!"
"Por que, então, seu coração palpita?
Será porque conheço seu segredo?
Ou porque cutuco sua ferida?"

(Ferida do tempo que passou,
Aberta por aquilo que não vivi...
Mas afinal quem sou?
Alguém que nunca está aqui?)

"Saia de mim, demônio.
Que este corpo tem dono!
Tomo de volta o que é meu,
E deixo contigo o que é seu!"

Uma súbita sensação de poder me toma.
"Tridente e tortura,
Frio e loucura,
Vai contigo pra longe."

O demônio não mais me assusta.
"O que fez comigo criatura?"
- grita o demônio, assustado -
Respondo confiante:
"Agora sei o quanto meu corpo custa!
Não te vendo, nem te deixo tomar emprestado."

A noite agora adulta me afaga, tranquila
O demônio se esvaiu,
Junto com a noite fria
Me viro e me cubro
Com meu próprio corpo quente
Agora sou eu quem manda
Em minha própria mente!

Em parceria com Cris Lima

PÂNICO - VERSÃO II

Uma e meia da manhã, noite adolescente.
Acordo de repente, o coração endoidecido
O que terá acontecido
Pra ele se rebelar assim,
E me arrancar do sono, do sonho,
Do quente?
Está frio, mas suo, me viro
- E lá está o bandido!

"Quem é você e o que quer de mim a esta hora ingrata?"
"Por que a pergunta"
- Diz, ofendido -
"Se a resposta é evidente?"
"Sou o que te atormenta, o que te assusta,
O que te maltrata!"
Respondeu ele, afiando o tridente.

"Sai daqui, besta,
Que de você não tenho medo!"
"Por que, então, seu coração palpita?
Será porque conheço seu segredo?
Ou porque cutuco sua ferida?"

"Não sou carola nem crente
esteja o senhor convencido
não acredito nos vivos
quanto mais nos falecidos"


Ele, zangado-"Espera um pouco gazela
com esses ares de donzela
numa certa festa em Veneza
a vi na Ponte do Rialto
dando a um certo noviço
mais do que a mão e o coração aos saltos"

"Então vem daí a lembrança recente
da sua figura espectral naquele carnaval
Fazia um belo par admito, com um certo marquês de Seixal"

"Sou por acaso algum cretino?
Pois saiba: reinventei o seu destino
E pouco se me dá se com arsênico ou cicuta,
se afogada ou enforcada
o que eu quero é levar alguém de assalto,
por desgosto ou sobressalto"

"Seja no inferno ou no hades
O senhor me convocou
Não vejo por qual Erínia
a ventura me abandonou
a sua idéia entrementes
embora inconveniente
de onde se originou?"

"Coisas pouco alvissareiras
São coisas que me fazem bem
e para o mal estou pendente
Se prepara que lá vem:
Entendo bem do desporto
que seu corpo provocou
na orgia italiana
a senhora engravidou"

"Sinto informar-te, meu caro
se para o bem inclinado
não foi você que imprecou
porém fica bem alertá-lo
em caráter excepcional
desde sessenta inventaram
o anticoncepcional"

"O tempo não me interessa
nem gosto de clepsidras
mas vejo que me logrou
Se volto ou não no intento
depende da sua sina
Eu parto sem minha parte
a sorte me foi asina"

Em parceria com Márcia Paula


segunda-feira, 16 de junho de 2008

Um pequeno poema existencialista

Em nossa aula da última terça, nosso professor de poesia, Nelson de Oliveira, nos deu 20 minutos para que escrevêssemos um poema que nos apresentasse. Nem preciso dizer que tal exercício causou um estado de quase pânico entre a maioria dos alunos, eu inclusive. Como escrever um poema em 20 minutos?? Pior, como escrever um poema em 20 minutos sendo que NUNCA escrevi um só poema em minha vida??? E, o pior de tudo, como escrever um poema em 20 minutos dizendo QUEM SOU????
É engraçado o que uma "leve pressão" é capaz de fazer. Diante da tarefa que nos foi dada, e frente ao medo de fracassarmos justamente na primeira tarefa proposta de "bate-pronto" no curso, TODOS os alunos conseguiram escrever o tal "poema de 20 minutos". Alguns deles, inclusive, escreveram pequenas preciosidades, em vista do tempo limitadíssimo e da dificuldade da tarefa.
Eu, por outro lado, se não escrevi nenhuma obra-prima, acabei por perceber uma coisa sobre mim mesma que, não fosse a exigência de ter de me apresentar em forma poética e em 20 minutos, provavelmente levaria muuuito tempo para perceber: que sou, no fundo, uma existencialista!
Que não acreditava em Deus, pelo menos no sentido mais estrito, isso já sabia. Assumi a arte como religião, e é por meio dela - de todas as suas manifestações - que "me religo" com o supremo da vida. Mas confesso que não sabia que tinha uma visão tão Sartreana da minha própria vida.
Abaixo, coloco o tal poema introdutório, e aproveito para pedir aos colegas que me ajudem a aprimorá-lo, nossa próxima tarefa, a qual confesso que estou tendo dificuldades em executar. (Essa versão já é a terceira, mas mesmo assim continuo achando que há muito o que melhorar nela).

IDENTIDADE

Aquilo que sou,
Confesso, não sei;
Apenas que um dia não fui
E - cedo ou tarde - não mais serei.
Em meio a esses dois não-seres
Dia após dia, vivo
meu ser.
O que sou?
A resposta,
Se um dia a tiver,
Não me caberá mais viver.
Aquilo que sou,
Vivo para aprender.

terça-feira, 10 de junho de 2008

Coisas que fazemos por amor



Não é fácil amar quem é diferente de nós. Se é verdade que os opostos se atraem, também é verdade que as diferenças tornam a convivência difícil, e o que atraiu duas pessoas pode, por fim, acabar por separá-las.
A pessoa que amo é oposta a mim: gosta de baladas, de aventurar-se, de superar seus limites físicos, é maratonista, pedala, faz corrida de aventuras; eu, só gosto de correr pro sofá assim que chego em casa do trabalho.
Mas pra amar é preciso estar perto, compartilhar as coisas de que o outro gosta. Então, no fim de semana passado, saí um pouco do sofá e de minha zona de conforto pra estar junto de quem amo.
Viajamos de madrugada, nos perdemos numa estrada de terra à uma da manhã, escalei pedras, subi e desci montanhas, e ontem mal conseguia andar. Para meu amor, isso foi fichinha, podia fazer isso todos os dias. Pra mim, foi uma superação. E não somente física, embora tenha exigido muito dos meus destreinados músculos e coração.

Não foi só na estrada de terra que me perdi nesse fim de semana. Também me perdi um pouquinho de mim mesma, do meu "eu" egoísta e acostumado a fazer só o que gosto. Acho que amar também é isso, se perder pra poder encontrar o outro.
E até que uma aventurazinha de vez em quando é bom!!...

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Condutas de risco

Uma grande amiga minha escreveu recentemente em seu blog que minha estória "o quarto do espelho" a fez pensar nas escolhas que ela fez até hoje e até sobre questões dos papéis que ela tem assumido em sua vida. Além da honra e do incrível sentimento de realização que senti, pelo fato de algo que escrevi ter provocado tamanho impacto na vida de alguém de quem gosto, o texto dela, por sua vez, veio ao encontro de uma questão em que vinha pensando desde que vi um filme, no domingo, sobre a coragem de escolhermos nosso destino. O título original do filme é simplesmente "Michael Clayton", nome do protagonista. Como não poderia deixar de ser, o título em português tinha que ser mais "mercadológico", e a opção escolhida foi "conduta de risco". Mas, diferentemente de vários casos conhecidos, achei que desta vez a escolha do título foi feliz.

O herói Michael Clayton tem uma jornada extremamente difícil. Em dado momento do filme, tem que escolher entre continuar desempenhando um papel para o qual foi escolhido pela empresa onde trabalha, e receber dessa empresa um empréstimo que lhe salvará a reputação e, quem sabe, até a vida; ou seguir o caminho que um colega (mentor?) seu, pivô da trama, lhe apontou como sendo o caminho certo, e que ele sente em seu interior que é o que deve fazer, e perder o emprego, o empréstimo e a vida que levou nos últimos 10 ou mais anos. Em dado momento do filme, enquanto tenta convencer o colega a se internar em uma clínica para maníacos depressivos, ele diz a esse colega "Eu não sou o inimigo", e ouve em resposta uma pergunta, "então quem é você?". Perguntinha difícil de responder em qualquer circunstância, mas ainda mais difícil no caso do protagonista.

É claro que, como em todo bom filme hollywoodiano, o herói acaba optando por renegar o trabalho sujo que fazia para a empresa e, ao perder o emprego e o empréstimo de que tanto precisa, na verdade ganha algo muito mais precioso: a vida que ele realmente escolheu, com tudo o que isso implica, além da sensação inigualável de ter ajudado centenas de pessoas que haviam sido prejudicadas pela grande empresa de produtos agrícolas que sua firma defendia.

A jornada desse herói me fez pensar nas escolhas que fazemos e nos papéis que assumimos, normalmente por pressão de nossos pais, colegas, patrões, e da sociedade em geral, ou por medo mesmo, ou ainda por comodismo. Às vezes, sem mesmo nos darmos conta. E, mesmo que não tenhamos uma dívida de US$80.000 como Michael Clayton, nunca é fácil nos despirmos desses papéis e tomarmos as rédeas de nossas vidas (minha amiga que o diga!). Mas a recompensa, o elixir que vem com esse desnudar, quando finalmente assumimos o risco e conseguimos ser, nem que seja um pouco só, verdadeiros a nossa essência, certamente vale todo o medo que passamos no processo.

Nem sempre é fácil detectar quais são nossas condutas de risco. Na minha vida, até hoje, consegui perceber algumas; corri alguns riscos, e algumas vezes eles valeram a pena e voltei para casa com meu elixir. Outras são mais difíceis de assumir, mas continuo tentando.

E você, sabe qual são as suas condutas de risco?

P.S. É interessante notar que o ator do filme, George Clooney, que, embora lindo, nunca foi tido como bom ator, também assumiu uma conduta de risco ao deixar a câmera focalizar seu rosto por vários minutos na tomada final, enquanto a expressão do personagem ia lentamente se modificando para espelhar a transformação pela qual passara. Pessoalmente, acho que esse risco valeu a pena!