As coisas acontecem de um jeito engraçado às vezes. Fazem a gente pensar se a tal sincronicidade de que falam por aí existe mesmo ou se são tudo coincidências.
Fato é que um dia após a minha última postagem, na qual falo do meu medo das pessoas, muito mais do que de espíritos ou fantasmas, deparei-me com uma entrevista que parecia fazer eco às ideias que tinha acabado de postar aqui. O entrevistado era Tim Burton, o cineasta americano conhecido por suas imagens no mínimo bizarras e, às vezes, até meio horripilantes. E eis o que ele afirma na entrevista: "Meus pais ficavam surpresos porque eu assistia filmes de terror e não tinha medo nenhum. Nunca tive medo de vampiros ou de Frankenstein. As pessoas reais é que são assustadoras."
Continuando a ler, cheguei a uma parte na qual Tim Burton falava de sua infância. Assim como eu, ele foi uma criança esquisita, diferente das outras, sempre considerado meio doido. Deve ter sofrido muito bullying, assim como eu também sofri, antes mesmo de terem cunhado esse termo. Naquela época a gente engolia e pronto, não tinha toda essa explicação psicossocial pra esse tipo de comportamento, o consenso era de que "crianças são cruéis mesmo, fazer o quê?"
É fácil entender por que tanto o Tim quanto eu temos dificuldades para confiar nas pessoas até hoje.
Já no final da entrevista, ele confessa, " Sabe o que é estranho? É que sempre me achei normal quando era criança. Depois de um tempo, você começa a pensar que é maluco, porque todo mundo te chama assim. Aí os anos passam e você se dá conta de que eles estavam certos, você era louco, mesmo."
Será?
As aventuras de uma aprendiz de si mesma em busca de seu próprio País das Maravilhas
DISCLAIMER
Este blog não tem pretenções literárias. Todos os textos postados aqui são produto de uma mente um tanto inquieta e, como tal, em constante busca de respostas para as inúmeras perguntas que teimam em surgir sem serem convidadas. Leitores que caírem, propositalmente ou não, nesta toca devem, portanto, abster-se de julgamentos de valor e tentar ler esses pequenos posts sem preconceitos...
Este blog não tem pretenções literárias. Todos os textos postados aqui são produto de uma mente um tanto inquieta e, como tal, em constante busca de respostas para as inúmeras perguntas que teimam em surgir sem serem convidadas. Leitores que caírem, propositalmente ou não, nesta toca devem, portanto, abster-se de julgamentos de valor e tentar ler esses pequenos posts sem preconceitos...
quinta-feira, 31 de maio de 2012
segunda-feira, 28 de maio de 2012
Sobre fantasmas e gente
Ontem fui a uma mãe de santo. Não sou da Umbanda, nem do Candomblé.
Na verdade, não aceito fazer parte de nenhuma religião, talvez por falta de fé,
talvez porque meu lado rebelde não aceita seguir dogmas, e talvez, ainda,
porque tenha uma desconfiança inata de tudo o que é fruto do ser humano. Sempre
me senti mais à vontade com minha própria religiosidade meio sincrética.
Mas, me sentindo um lixo há mais de dez dias, e sem saber
direito onde terminava a doença física e onde começava a psicológica, ou espiritual,
decidi que precisava de ajuda, e que talvez apenas ir a um médico não bastaria,
e aceitei fazer uma consulta.
Segundo a mãe-de-santo que consultei, eu estou com “carrego”.
Esta é a palavra usada pela Umbanda para se referir a algum trabalho feito
contra a pessoa, seja meramente por inveja, seja por ódio mesmo. Terei que
passar por um ritual de limpeza, com o objetivo de me livrar do carrego e me
proteger de futuros olhos gordos.
Mas, em dado momento da consulta, ela me disse algo que ainda
me foi mais perturbador: que meu pai, morto há quase sete anos, poderia estar “pairando”
por perto de mim, com o intuito de me ajudar, mas que essa presença dele
poderia estar me atrapalhando mais que ajudando. E isso me assustou mais do que
qualquer trabalho que algum desafeto pudesse me ter feito, porque com os vivos
a gente sempre lida melhor. Eu sei que tanto no ambiente de trabalho, o mais
propício a esse tipo de rivalidade, como fora dele, sempre vai haver pessoas
invejosas, que nos desejam mal, mas nunca tive um medo irrazoável desse tipo de
coisa, afinal, digo a mim mesma, são só pessoas, humanas como eu e, como eu,
passíveis de sentimentos negativos.
Mas, e os mortos? Como lidar com os fantasmas dos nossos
seres amados que nos deixaram, às vezes há tempos, como é o caso do meu pai,
mas que ainda assim nos assombram?
Que não me entendam mal meus poucos leitores, este não está
prestes a se tornar um texto sobre fenômenos sobrenaturais! Não acredito que o
fantasma, ou espírito, do meu pai esteja realmente me rondando e atrapalhando
minha vida. Mas sei, sim, que ele ainda me assombra, de um modo muito real e
muito, muito prejudicial. E eu precisei ficar fisicamente doente para me dar
conta de que ainda não me curei dessa doença psicológica.
A minha doença física não é nada do outro mundo, muito menos
incurável. Trata-se apenas de uma infecção crônica que de repente virou aguda e
me tirou a energia e o bem-estar. E eu me lembrei do meu pai porque, em meio à doença
dele, essa sim incurável e fatal, ele dizia que daria tudo para “se sentir
gente” de novo. O câncer lhe roubou a humanidade, ao lhe tirar o que ele tinha
de mais precioso, sua saúde, ele que era um homem tão ativo. E, nestes últimos
dias, ao me pegar pensando que eu, também, queria voltar a me sentir como
gente, subitamente pensei como isso era injusto, como eu estava reclamando de “barriga
cheia”, porque, diferentemente do meu pai, eu com certeza vou voltar a me sentir
“como gente” assim que sarar desta infecção.
Meu pai, por outro lado, nunca teve sua humanidade
restaurada. Nunca voltou a se sentir como gente. Em menos de um ano o câncer o
matou, não sem antes ter causado muitas dores, para as quais não havia alívio
possível. E hoje me peguei em lágrimas pensando nisso, pensando como foi brutal
e injusto que meu pai, que era médico e dedicou sua vida adulta inteira a ajudar
os outros a se sentissem melhor, não teve a mesma sorte quando adoeceu. E, ao
perceber como ainda sofro e não me conformo com esse fato, que aconteceu há tantos
anos, percebi também que eu ainda não sarei da minha real doença. As infecções,
as gripes, as dores de estômago, essas podem ser curadas com remédios. Mas e a
dor da culpa, de ainda estar aqui e saber que eu vou voltar a me sentir gente,
enquanto meu pai morreu sem jamais voltar ter esse direito? Quem cura essa
doença??...
Infelizmente, não acho que o ritual de limpeza que farei em
alguns dias tenha esse poder. Essa cura eu vou ter que buscar em mim mesma. Que
Deus me ajude.
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