DISCLAIMER
Este blog não tem pretenções literárias. Todos os textos postados aqui são produto de uma mente um tanto inquieta e, como tal, em constante busca de respostas para as inúmeras perguntas que teimam em surgir sem serem convidadas. Leitores que caírem, propositalmente ou não, nesta toca devem, portanto, abster-se de julgamentos de valor e tentar ler esses pequenos posts sem preconceitos...


sexta-feira, 20 de abril de 2012

Mensagem para quem não me lê - parte II

Meu amor, meu menino, meu homem, esta mensagem é para você, que provavelmente nem se lembra do endereço deste blog... Embora eu tenha te mostrado ele uma vez, e você até tenha lido o primeiro post desta minha volta à toca. Lembro que fiquei magoada, porque quando você me leu não disse nada, não ofereceu crítica nem elogio, ficou calado. Do mesmo jeito que ficou calado quando eu disse que não dava mais pra nós. Não contestou, não tentou me convencer, justo você que sempre tentava me convencer de que tanta coisa em que eu acreditava estava errada. Justo agora, que eu bem que posso estar errada. Afinal, por que outra razão eu, que terminei a relação, ia estar sofrendo tanto?... Não deveria ser o contrário, eu não deveria estar aliviada, ufa, consegui terminar uma relação que não estava dando certo, não estava nos fazendo felizes...? Mas não, tudo o que eu penso é em como sinto sua falta e como queria ter você de novo nos meus braços, na minha cama, em cima, embaixo, dentro de mim. Hoje é sexta-feira, estou sozinha e você está afogando as mágoas na vodka (pelo menos você me disse que iria sair pra beber, e eu imagino que se vai mesmo fazer isso, não vai ser com cerveja, e sim com sua bebida favorita). Daí me pego pensando, será que fiz mesmo a coisa certa?? Minha cabeça diz “Sim, não podia dar certo, vocês são diferentes demais, não têm nada em comum, iam começar a se odiar a qualquer momento!”, mas meu coração diz, “Não, sua tonta, vocês se gostam de verdade, ele te entende como ninguém, apesar das diferenças, apesar das dificuldades, por que terminou, por preconceito?” Em quem acreditar, na minha razão ou na minha emoção? Como para tantas outras questões na minha vida, também não consegui achar ainda a resposta para esta. E agora sinto você escapando de mim, e meu medo é que se um dia me decidir pela emoção seja tarde demais.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Sessões das segundas-feiras

Faz bem pouco tempo que retomei essas sessões, que antes eram às quartas-feiras, agora são às segundas-feiras; antes eram cedinho, quando meu dia ainda estava começando e eu me preparando pra correria do trabalho, agora são no final do dia, quando eu já estou cansada e pronta pra ir pra casa, cair no meu sofá e relaxar. Antes disso, entretanto, dirijo-me ao bairro de Moema. Subo ao 60 andar, sempre com alguma apreensão, alguma ansiedade: sei como estou entrando, mas como será que vou sair, daqui a uma hora? A única certeza que tenho é que não sairei igual. Daqui a curtos 60 minutos eu já serei um pouquinho diferente.

Ela abre a porta, e nunca esquece de me oferecer algo, um café, uma água de coco, sempre a mesma gentileza, o mesmo cuidado. E é com esse mesmo cuidado que me convida a entrar, me faz sentir acolhida, como se a separação não tivesse sido longa – mais de três anos – e, quando entro na sala, que nem é a mesma de antes, mas continua elegante e confortável, eu me pego pensando: “ainda bem que voltei!”

Minhas sessões das segundas-feiras são curtas, às vezes difíceis, às vezes até doídas, mas sempre, sem exceção, transformadoras. E, enquanto eu saio da sala, desço no elevador e saio do prédio, não posso deixar de pensar em como tenho sorte de ter esses encontros semanais com essa pessoa tão rara, tão sensível e tão essencial a essa que é, certamente, a minha mais importante missão, e que deveria ser a mais importante missão na vida de todos nós: desvendarmos o mistério que somos, em busca de uma vida mais plena.

(Para Sônia e Anônimo)

sexta-feira, 6 de abril de 2012

DE VOLTA À TOCA


Após mais de três anos, estou finalmente de volta à minha toca do coelho. Confesso que estava sentindo falta destes encontros comigo mesma, neste lugar que, apesar de acessível a todos, é na verdade acessado por tão poucos. Bom, suponho que até este aparente paradoxo tem tudo a ver comigo. A verdade é que a principal razão de eu ter decidido a voltar a postar aqui foi o meu retorno à minha antiga terapeuta e uma de minhas mais fiéis leitoras. Afinal, estes meus escritos sempre foram mais uma ferramenta terapêutica do que, propriamente, textos literários. Nunca tive, e certamente não tenho agora, nenhuma pretensão de fazer deles nada além do que realmente são, reflexões pessoais de uma pessoa em busca de si mesma.
Mais uma evidência disso é que meus sonhos sempre foram um material importantíssimo nestes textos, vários dos quais foram baseados ou inspirados neles. E este post não é diferente. Nele quero relatar um sonho que tive esta noite e que teve importância especial para mim.
Eu estava com uma família. Aparentemente normal, mãe, pai e filhos. O interessante é que, embora soubesse que o casal tinha mais filhos, só me lembro de um. Um menino, cinco ou seis anos, que, assim que me viu, me abraçou forte e me disse que eu era bonita e cheirava bem. Lembro-me de pensar como esse tipo de demonstração de carinho é raro em meninos, que geralmente preferem brigar e chutar como forma de afeição. Mas gostei muito da experiência.
A um certo ponto, entramos em um carro para ir à casa deles. O marido, então, me disse que lia tarô, e eu achei isso também surpreendente. Ele não tinha cara de quem lia tarô. Até aí, desconfiava que essa família aparentemente tão ordinária na verdade era bastante diferente. A casa deles também fugia do normal, com cômodos amplos, que incluíam uma grande jacuzzi onde a família se reunia. Comecei então a conversar com a esposa, que era professora de inglês à noite e me disse que, embora fosse judia, tinha "mandado a tradição judia dela às favas". Achei aquilo muito rebelde e gostei imediatamente. Gostei também dos cabelos dela, pintados de um vermelho intenso. Mais tarde fomos todos à mesa de jantar e continuamos conversando. A última coisa da qual me lembro é de ter me olhado no espelho e me visto jovem e bela, e pensado "ela (a esposa) parece muito mais velha do que eu."
Para mim, está claro que ambas, a "eu" no sonho e a esposa, são, na verdade, eu mesma. A eu que é solteira inveterada, que se espanta tremendamente com o afeto vindo de um menino, e a eu que, no fundo, queria muito ter uma família, mas uma família como essa, tão normal na superfície, mas no fundo tão extraordinária.
Outras interpretações possíveis (e há várias, inclusive algumas muito pertinentes do meu namorado, que, muito possivelmente está no sonho tanto na criança como no marido), ficarão para a minha sessão da segunda-feira.