DISCLAIMER
Este blog não tem pretenções literárias. Todos os textos postados aqui são produto de uma mente um tanto inquieta e, como tal, em constante busca de respostas para as inúmeras perguntas que teimam em surgir sem serem convidadas. Leitores que caírem, propositalmente ou não, nesta toca devem, portanto, abster-se de julgamentos de valor e tentar ler esses pequenos posts sem preconceitos...


domingo, 27 de abril de 2008

Quando nos faltam as palavras


"Nossa, vocês que têm Mercúrio na 12a casa não falam!!" disse ontem o professor de astrologia, durante uma palestra sobre Mercúrio, deus da comunicação, e seu aspecto em nosso mapa astral, que, segundo a astrologia, determina nosso modo de nos comunicarmos.
Não posso negar que fiquei um pouco ofendida com essa crítica tão incisiva do professor ao meu estilo de comunicação - ou de falta dela -, do qual, aparentemente, o grande culpado é um aspecto infeliz de Mercúrio na 12a casa, a casa do inconsciente e dos nossos medos mais profundos... segundo a astrologia, essa combinação tenderia a me tornar uma pessoa com grande dificuldade de me expressar.
Por outro lado, achei fascinante o fato de que, sob essa visão, é claro, meu dom de comunicar esteja tão intrinsecamente vinculado ao meu inconsciente: costumo dizer que meus sonhos são tão criativos, tão incrivelmente repletos de imagens e simbologias inusitadas, que não é possível que em algum lugar da minha mente consciente eu não seja, igualmente, criativa!... O grande problema, me parece, está justamente em conseguir colocar tudo isso que eu percebo, sinto, intuo, mesmo, "para fora", por meio das palavras. É justamente por isso que tantas vezes me pego tentando explicar um sonho particularmente rico que tive, que SEI que é rico e imaginativo, mas não consigo achar as palavras para narrá-lo...
Hoje, entretanto, ao ler uma conversa entre o escritor inglês Ian McEwan e o psicólogo e estudioso da linguagem Steven Pinker, me senti ao menos levemente aliviada, redimida, até, desse "pecado" mortal de muitas vezes não conseguir me expressar em palavras. Num dado momento da conversa, Pinker afirma que "o pensamento precede as palavras", indo, inclusive, na contra-mão da maioria dos lingüistas, que acredita não haver pensamento sem linguagem.
Embora seja, eu mesma, lingüista, nunca concordei com esse determinismo, que sempre me pareceu forçado, talvez justamente porque eu mesma tantas vezes tive pensamentos que não conseguia expressar em linguagem verbal!
A palestra de ontem e a descoberta desse interessante, mas complicado, vínculo entre meu Mercúrio e meu inconsciente me deu muito que pensar, e me fez voltar à primeira razão para minha vontade de escrever, que exprimi na minha última postagem neste blog: escrever para vencer o medo de escrever. Será que esse medo vem justamente dessa necessidade que sinto de expressar meus pensamentos, emoções e sensações mais profundas por meio da palavra escrita? Será esse meu estilo de criação, minha limitação?
Bendito Mercúrio na 12a casa!!

segunda-feira, 21 de abril de 2008

Por que quero escrever?

Essa pergunta tem me assombrado desde que, em nossa segunda aula, Gabriel nos mostrou o livro "Por que Escrevo?", organizado por José Domingos de Brito, que reúne respostas de autores consagrados. Após ter ouvido algumas dessas respostas, geniais como seus autores, é difícil a gente se não se sentir intimidado e decidir que não vale a pena nem tentar respondê-la... o engraçado é que, ao pensar isso, descobri justamente uma das razões que me leva a querer escrever: quero escrever pra vencer meu medo de escrever. Aí você pode dizer: "mas isso lá é razão pra querer escrever?" Bom, confesso que essa não é minha ÚNICA razão, mas é a primeira. Caso eu consiga vencer esse paralisante medo da criação escrita, acho que posso pensar em pelo menos mais uma razão pra querê-la tanto. Mas pra isso vou ter que parafrasear Rilke, que, pra mim, veio com a mais incrível - e verdadeira - razão pela qual escrever: simplesmente porque criar é uma maneira muito feliz de se viver. Tem razão melhor??

Segunda-feira, 21 de abril de 2008.

Bem-vindos à toca do coelho!

No dia seguinte à nossa primeira aula, Gabriel escreveu em seu blog sobre a relação que há entre a jornada do escritor e o “mundo especial” para onde vai o herói mítico. Um dos exemplos dado pelo professor é o mundo de Matrix. Não coincidentemente, esse filme causou grande impacto no meu mundo interior, justamente por tratar da questão das escolhas que temos de fazer em nossas vidas e como elas vão traçando nossa trajetória e definindo o que seremos ou deixaremos de ser. Para mim, a cena mais marcante desse filme é aquela em que Morfeu oferece duas alternativas a Neo: tomar a pílula azul e voltar à vida de “sono eterno” da Matrix, ao mundo comum que foi escolhido para ele e ao qual ele está condicionado e acostumado; ou tomar a pílula vermelha, que o levará ao mundo especial, ou, na analogia feita por Morfeu, à “toca do coelho”.

Essa feliz analogia nos leva ao mundo superespecial de Alice, no qual ela ingressa por meio da toca do coelho branco. Ao entrar na toca, Alice inicia uma queda que inicialmente parece não ter fim. A entrada no mundo especial fica então intrinsecamente relacionada à perda do controle aparente que temos sobre nossas vidas. O que o mundo especial nos trará??? Ninguém sabe, mas sabemos que não vai ser fácil sair do nosso mundinho comum para buscar essa resposta. E é por isso que Morfeu dá a Neo a opção de escolher entre o mundo comum e o mundo especial. É claro que, como nos disse a professora Márcia em nossa primeira aula, na obra de ficção o herói pode até hesitar, mas no final sempre optará pelo mundo especial (ou será forçado a entrar nele), sem o qual não haveria história...

Na vida real, entretanto, sabemos que nem sempre é assim. A maioria de nós, por exemplo, não tem a sorte de poder fazer escolhas: a luta diária pela sobrevivência torna impossível sequer imaginar que possa haver um outro mundo que não seja o da labuta. Para uns poucos afortunados, entre os quais me incluo, a toca do coelho ocasionalmente se apresenta em nossas vidas e, se temos a sorte de conseguir vislumbrá-la (porque nosso condicionamento muitas vezes não nos deixa vê-la), deparamo-nos com a responsabilidade de ter de escolher: entramos na toca e, conseqüentemente, no mundo especial, onde não sabemos o que nos espera?? Ou permanecemos em nosso mundinho comum, tão tedioso, mas tão confortável, no qual possuímos, ou ao menos temos a ilusão de possuir, o controle da situação?

Enfim, escolher o mundo especial não é fácil. Por um lado, ele nos tenta com visões de aventuras, paixões, sensações novas e fantásticas; quem não se lembra das flores falantes, do gato de Cheshire e do chapeleiro louco de Alice? Mas por outro lado, ele nos assombra com o pior de nossos inimigos: o medo do fracasso. Que “cabeças” serão cortadas??...

Para mim, (re)começar a escrever é escolher cair na toca do coelho, com todas as dúvidas e medos que isso me causa. Será que vou conseguir chegar ao meu país das maravilhas pessoal? Ou, ao final dessa jornada de um ano, vou descobrir que não nasci pra ser escritora? Não saber a resposta a essa pergunta me apavora, não nego. Felizmente, minha natureza rebelde me garante que esse medo não me impedirá de escolher a pílula vermelha. Tenho a certeza de que, aconteça o que acontecer, esta será uma jornada e tanto...

Sábado, 12 de abril de 2008.